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terça-feira, 19 de julho de 2011

A Casa: terror uruguaio prende atenção até revelar desfecho imaturo


De vez em quando, alguns filmes de circuito alternativo chamam atenção da mídia e do público. Assim foi com “REC” e “Atividade Paranormal”, produções contemporâneas que retomaram com vigor o gênero terror. Agora, o desafio é continuar descobrindo ou realizando outras obras semelhantes, de forma a criar um nicho de admiradores. O terror uruguaio “A Casa”, de Gustavo Hernandéz, foi rodado com orçamento de US$ 6 mil e uma câmera fotográfica tenta, tenta entrar para essa lista pretensiosa, mas escorrega feio no terceiro ato da película.
Na trama, a bela Laura (Florencia Colucci) se hospeda com seu pai Wilson (Abel Tripaldi) em uma casa a pedido de Néstor (Gustavo Alonso), que pretende vender o local em breve. A dupla avaliará os custos do patrimônio e, para isso, chega um pouco mais cedo ao local, ao entardecer, para começar os trabalhos no dia seguinte. Tudo vai bem até que Laura começa a ouvir barulhos suspeitos no andar superior da casa e uma onda de terror e suspense toma conta da projeção. O roteiro é supostamente baseado em uma história que aconteceu em 1944 em um vilarejo do Uruguai.
O diretor Gustavo Hernandéz vendeu o filme como uma experiência inovadora rodada em plano sequência, em que os 78 minutos de projeção não ganham cortes aparentes. A técnica, que deve ser usada com muita cautela e competência pela equipe envolvida, é bem elaborada por uma câmera na mão nervosa e, principalmente, curiosa. Entretanto, é notável que a edição está presente em “A Casa”, já que alguns cortes delicados podem ser percebidos nos momentos de maior escuridão da cena e por alguns truques de câmera. Dessa forma, a proposta mercadológica já se torna falsa até mesmo ao perceber passagem do tempo do início ao fim do filme, em que é visível o deslocamento além dos 78 minutos “corridos”.
Hernandéz colaborou com Oscar Estévez na realização do script, que mostra uma casa mal assombrada (argumento clichê) que tornará seus moradores reféns do terror. Até o segundo ato, o suspense está sempre presente, com uma iluminação ambiente macabra por meio de lanternas e flashes que auxiliam na composição das cenas. Os ruídos aumentam o pânico criado no espectador, enquanto o silêncio é a trilha sonora mais adequada para a produção. Se tudo está correto em cena, este longa se torna um bom exemplar do gênero até o início das justificativas no último ato.
Tudo bem que originalidade não está presente em vários filmes, principalmente no gênero de suspense e terror, mas um erro recorrente e intragável é subestimar a inteligência do espectador. Ao explicar os fatos que acontecem dentro da casa, Hernandéz cai em uma armadilha mortal. Isso porque, até então, sua câmera investia em uma visão particular de sua protagonista, já que era por ela que estávamos acompanhando todos os eventos.
Ao entrar em seu terceiro ato, somos levados a outra visão exterior àquilo tudo que presenciamos, sendo impossível, ao olhar do público, julgar aquela alternativa como a mais coerente. O erro se torna imperdoável e faz com que tudo que foi apresentado seja desconsiderado. Dessa forma, o público é enganado com uma justificativa desesperada de finalizar a sua trama boba, que já foi vista outras vezes no cinema de maneiras bem mais aceitáveis.
Aqui vale ressaltar a preparação do elenco, principalmente de Florencia Colucci, que dá vida ao filme e está consegue improvisar e passar todo o pânico que lhe é atribuído. Seus companheiros de elenco têm pouco a fazer em cena, sendo meros objetos de manipulação do roteiro. É uma pena ver uma premissa clichê, mas que mantém um bom nível de suspense, descer pelo ralo sem aproveitamento algum ao final da sessão.
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Diego Benevides é jornalista graduado pela Universidade de Fortaleza (Unifor), atualmente é pós-graduando em Assessoria de Comunicação, pesquisador em Audiovisual e professor universitário na linha de Artes Visuais e Cinema. Desde 2006 aprendeu a gostar de tudo um pouco. A desgostar também.


De Cinema com Rapadura

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