RochaXY – S02E05 – Power Rangers

sábado, 20 de agosto de 2011

Professora Sem Classe: você já sonhou com uma mulher dessas antes


“Professora Sem Classe” brinca com a usual quebra de paradigmas que permeia os sonhos mais ousados dos estudantes: a possibilidade de uma professora que rejeite todos os moldes institucionais. Ou alguém nunca imaginou que a figura no canto mais importante da sala de aula pudesse ter, fora dos limites da escola, uma personalidade exageradamente distinta daquela exibida durante o trabalho? Quando o profissional não consegue separar adequadamente seu modo de agir entre os dois mundos, o resultado é o que pode ser visto nesse filme de Jake Kasdan.
Claro que o longa conta com o proposital exagero de situações do roteiro de Gene Stupnitsky e Lee Eisenberg, mais conhecidos por seu trabalho com a concepção de scripts para alguns episódios da série “The Office”. Afinal, não é todo dia que esbarramos com a professora do ensino fundamental envolta por uma nuvem de fumaça – cujo princípio ativo não é a nicotina – dentro do seu carro, estacionado no jardim da escola. Menos óbvio ainda é encontrá-la em trajes mínimos realizando piruetas no capô de um carro sendo lavado. O melhor exemplo do cinema colocando em prática nossas aspirações juvenis.
Como dificilmente seria construído sobre os deslizes e excessos da professora –  embora esses momentos garantam as cenas mais cômicas do longa –,  foi preciso criar uma história que funcionasse como linha guia entre o início e o fim dos 90 minutos de projeção. Um time de personagens secundários foi convocado para dar alguma substância ao roteiro: Justin Timberlake, Jason Segel e Lucy Punch são os outros professores do local e dividem espaço com Cameron Diaz. Entre protagonista e coadjuvantes, todos respondem bem aos estímulos exigidos para os seus personagens, embora ainda estejam longe de atuações memoráveis para suas carreiras. A mais próxima disso é Lucy Punch, no papel da professora que fiscaliza e denuncia os abusos da colega. Com uma ótima veia para a comédia, a atriz consegue fazer rir com seus modos exageradamente tradicionais e positivos de ministrar uma classe.
O grande mérito da trama é a sua aparente não pretensão de ser lembrado como grande expoente da indústria do humor. Originalidade deixada de lado (no que se refere à criação da personagem principal), o que resta é um apanhado de situações clichê que dão força ao grande propósito da professora: arrumar 10 mil dólares para implantar silicone nos seios. E nesse momento a coisa toda já assumiu o tom de deboche necessário ao desenrolar da história. Não como algo negativo, mas sim aparentando uma neutralidade que não chega a aborrecer. É exatamente o que foi testado e aprovado em outras produções do gênero.
E como um filme de comédia neutro, lá está a direção absurdamente tradicional, a fotografia meramente automática e a trilha sonora característica das comédias hollywoodianas que flertam com o humor negro, com rocks acelerados que vão desde o Judas Priest até o Whitesnake. Além da composição da protagonista – mais por sua inserção naquele ambiente específico que por uma personalidade inovadora –, nenhum outro esforço foi feito para garantir alguma originalidade ao restante do longa. Desde que bem administrado, como realmente acontece, essa neutralidade não chega a caracterizar um defeito.
No meio de situações revividas e piadas usuais, dois momentos conseguem elevar a qualidade de “Professora Sem Classe“ e deixar no espectador a sensação de que o conjunto da obra poderia ser melhor. O primeiro deles é a sequência em que Cameron rodopia no capô dos carros molhados, durante a campanha escolar para arrecadação de dinheiro, que trabalha em níveis certos com a mistura entre humor e erotismo. O outro momento é o surgimento dos créditos iniciais do longa, embalados pelo rock tradicionalíssimo do Rockpile e acompanhado por imagens antigas de salas de aula ao redor do mundo. É um início inspirador para 90 minutos de um filme morno.
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Jáder Santana é estudante de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo. Experimentou duas outras graduações antes da atual até perceber que 2 + 2 pode ser igual a 5. Agora, prefere perder seu tempo com teorias inúteis sobre a chatice do cinema 3D.


De Cinema com Rapadura

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