RochaXY – S02E05 – Power Rangers

sábado, 22 de outubro de 2011

Eu Queria Ter a Sua Vida: cuidado com a vida que você deseja ter


A temática da troca de corpos é recorrente no cinema e nenhum exemplo é tão perto de nós quanto o nacional “Se Eu Fosse Você”. O público sabe o que esperar de comédias com esse argumento, em que os protagonistas passam por dificuldades durante a mudança inesperada até que eles consigam transcender e se tornar pessoas melhores merecedoras de voltar ao normal. Não é diferente com “Eu Queria Ter a Sua Vida”, comédia estrelada pelos ótimos Jason Bateman e Ryan Reynolds.
Na trama, Dave (Bateman) é um workaholic que divide seu tempo entre ser advogado e cuidar da esposa e seus três filhos. Mitch (Reynolds) é o típico garotão aventureiro e pegador, com gostos pessoais incomuns. Um dia, os dois refletem como suas vidas são complicadas e revelam que gostariam de viver um pouco o que o outro passa: Dave sente falta da liberdade de solteiro e Mitch gostaria de ter uma família amorosa ao chegar em casa. Após urinarem em uma fonte “dos desejos”, um evento inexplicável faz com que eles troquem de corpos. A partir daí, eles precisam se adaptar à rotina nada fácil do companheiro, enquanto tentam localizar a fonte, que foi transferida de local, para reverter o feitiço.
O roteiro de John Lucas e Scott Moore, que trabalharam juntos em “Assalto em Dose Dupla”, “Minhas Adoráveis Ex-Namoradas”“Surpresas do Amor” e “Se Beber, Não Case 2″, mostra que o desejo de viver outra vida que os protagonistas não estão acostumados pode ser mais perigoso do que divertido. Eles precisam se adequar ao schedule do outro e encontram no caminho situações bem constrangedoras que não esperavam. O script apela para momentos escatológicos para tentar fazer rir, mas dificilmente traz piadas originais que mostrem o seu diferencial entre tantas comédias lançadas anualmente. Piadas com apelo sexual e situações envolvendo crianças são recorrentes, mas fica difícil comprar a história que já é tão absurda que nem mesmo age com naturalidade em seus conflitos.
A principal marca do filme de David Dobkin (“Penetras Bons de Bico”) é tratar as situações banais com escracho, que quase sempre fogem do bom gosto e cai no constrangimento. Dobkin não colabora como diretor para que as poucas gags funcionem corretamente ou mesmo que a história tenha seu brilho. Bateman e Reynolds estão bem à vontade nos papéis e incorporam com sucesso a personalidade um do outro, mas o roteiro os desfavorece ao questionar, principalmente, o que teria acontecido para trocarem de corpo. A busca pela reversão do feitiço também fica esquecida até a chegada do terceiro ato, quando o filme precisa terminar e já não há  mais ideias e situações para enfiá-los.
O elenco de apoio é composto principalmente pelas belas Olivia Wilde e Leslie Mann. Wilde fica deslocada até o roteiro encontrar uma alternativa para um bom desfecho, ainda que previsível, para a sua personagem. Mas em cena ela não tem muito o que fazer. Mann interpreta a esposa de Dave, com um drama mal colocado. Ela reclama que seu marido está negligenciando a família por causa do trabalho, mas não o vemos como alguém que se esquece de cuidar do filhos (a não ser quando ele troca de corpo com Mitch). O questionamento gera momentos dramáticos bem interpretados por Mann, mas o contexto se perde. Vale a pena citar também a presença do premiado Alan Arkin como o pai de Mitch, levando experiência e simpatia nos poucos momentos em que é aproveitado pelo roteiro.
“Eu Queria Ter a Sua Vida” opta pelo escracho para contar uma história que já foi contada de tantas formas que não traz nenhum diferencial para o público. É possível se divertir (vai depender do seu bom gosto!), mas as piadas são pouco inspiradas. Esse é mais um exemplo de que não é sempre que conseguirão tirar situações deliciosas do escracho, como em “Se Beber, Não Case!”, estando cada vez mais difícil fazer boas comédias meio a tantas ideias mal aproveitadas.
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Diego Benevides é jornalista graduado pela Universidade de Fortaleza (Unifor), atualmente é pós-graduando em Assessoria de Comunicação, pesquisador em Audiovisual e professor universitário na linha de Artes Visuais e Cinema. Desde 2006 aprendeu a gostar de tudo um pouco. A desgostar também.


De Cinema com Rapadura

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