RochaXY – S02E05 – Power Rangers

sábado, 22 de outubro de 2011

Winter, o Golfinho: uma razoável produção sentimental


Nem todo longa sobre animais de estimação é capaz de repetir o feito de “Marley & Eu” e ser bem mais do que um mero filme-família esperando os anos passarem para que seja exibido na Sessão da Tarde. Por acaso alguém lembra de “Flipper”, “Bud” e “Free Willy” como películas de qualidade que vão além de boas memórias de infância? É provável que não. Pois a lista acaba de aumentar, já que “Winter, O Golfinho” jamais se preocupa em ser uma produção original, mas em satisfazer aqueles em busca de um filme emotivo, cheio de mensagens explícitas e de um digno final feliz (o que não representa, de forma alguma, um spoiler). E consegue!
Como não poderia ser diferente, o protagonista é novamente um tímido pré-adolescente de uma pequena cidade do interior dos Estados que acaba criando um forte vínculo com um animal. Novamente, no papel do fiel amigo do menino, temos um golfinho, o mais simpático dos bichos.  O nome deles: Sawyer Nelson (Nathan Gamble) e Winter (que interpreta ela mesmo). Os dois acabam se encontrando pela primeira vez em um passeio de bicicleta do garoto, que leva um susto ao se deparar com o inofensivo golfinho machucado e encalhado na beira da praia. A partir de então, tem início uma jornada em busca da sobrevivência de Winter e da manutenção da improvável amizade (e por que não história de amor?) entre a dupla.
Apropriando-se de fatos verdadeiros para moldá-los com a fôrma mais comercial possível, a dupla de roteiristas Karen Janszen (especialista em filmes com animais de estimação) e Noam Dromi (em sua estreia na função) tem como grande mérito o desvio de um chato maniqueísmo que por diversas vezes acomete obras desse subgênero. Os vilões, felizmente, não existem. Não há ninguém contra ou impedindo a aproximação do menino com Winter, a não ser a timidez de Sawyer. Até sua própria mãe chega a defender a sua opção de deixar as aulas escolares de lado e mergulhar em uma experiência de vida inesquecível, em que o aprendizado vem naturalmente, sem grandes esforços que não encontram ecos posteriormente.
Janszen e Dromi, porém, perdem a oportunidade de dar aos seus personagens doses de autenticidade, que resultariam em uma maior afeição do público com eles e, principalmente, em uma maior verossimilhança à história, quesito escasso em “Winter”. A exagerada emotividade, advinda principalmente dos diálogos com suas frases feitas e lições de moral “vomitadas” a cada dezena de minutos, faz a obra desperdiçar a completa potencialidade cinematográfica desta história real. Outras escolhas narrativas clichês também incomodam, como a dificuldade dos donos em manter o hospital aquático, que resulta em um desfecho demasiadamente açucarado, sem antes deixar de fazer nascer diversos pontos de interrogação nas cabeças dos protagonistas.
Por outro lado, felizmente, o roteiro escapa de um possível romance entre o veterinário do hospital, Clay Haskett (Harry Connick Jr.), e a mãe de Sawyer, Lorraine Nelson (Ashley Judd), mesmo que a cena que exibe o primeiro encontro entre os dois provoque desconfianças. O auge do filme, e certamente o maior motivo de ser sucesso nos EUA, é a forma singela encontrada pelo diretor Charles Martin Smith (“Bud”) de contar essa bela história de amizade e de carinho mútuo, em que um depende do outro para se sentir feliz, para curar suas dores e superar suas próprias deficiências. Mesmo que o início desse amor correspondido soe precipitado (e até certo ponto quase transcendental), o gradual desenvolvimento e manutenção dele apaga esse erro.
O trabalho de Smith, no entanto, não pode ser exageradamente exaltado. Por diversas vezes, ele cai em um  sentimentalismo barato, além de pouco saber lidar com a comédia, essa demasiadamente pura. Para se ter uma ideia da inocência cômica do longa, basta dizer que cabe a um pelicano a função de fazer o público gargalhar. O diretor chega até a apresentar uma dispensável sequência que inclui um voo sem destino de um aeromodelo, na qual chega-se ao ponto de quase antropomorfizar os animais. Até a própria Winter sofre com as intenções infantis do cineasta, que a faz recorrentemente manifestar-se com seus sons agudos.
A mesma Winter também representa o auge técnico do filme que, entre a participação do verdadeiro golfinho e a inclusão de efeitos especiais, não permite que o espectador distingue o que é verdadeiro ou não. A mesma sensação não se repete em relação ao todo, em relação ao filme por inteiro. É cinema previsível com grande parte dos vícios que acometem produções com temática semelhante. Mesmo assim é capaz de emocionar e já deve ser considerado como um dos fortes candidatos para hit nos próximos anos nas tardes televisivas brasileiras.
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Darlano Dídimo é graduado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC), é adorador da arte cinematográfica desde a infância, mas só mais tarde veio a entender a grandiosidade que é o cinema.


De Cinema com Rapadura

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