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terça-feira, 26 de abril de 2011

A Garota da Capa Vermelha: repetindo a fórmula de Crepúsculo. E aí?


Contos de fadas não são para crianças. Sim, as versões mais conhecidas destes, hoje em dia, são aquelas suavizadas por nossos antepassados através de séculos de reinterpretações e eufemismos. Em suas formas brutas, são histórias bastante assustadoras. Portanto, uma tomada mais sombria da lenda da Chapeuzinho Vermelho é, de fato, uma ideia com bastante potencial.
No entanto, vivemos em tempos estranhos. Um comentário que ouvi recentemente é que comparo muito os filmes adolescentes com a franquia (jamais saga) “Crepúsculo”. A questão é bastante simples: Hollywood ADORA repetições. Se algo deu certo uma vez nas bilheterias, vamos fazê-lo de novo e trazer de volta aquele mesmo público. Assim, economiza-se com marketing e tem-se um retorno financeiro mais assegurado.
Este “A Garota da Capa Vermelha” é uma mistura desses dois conceitos, se apresentando como uma versão para o público adolescente do conto da menina que ruma para a casa de sua avó. Nesse sentido, a Warner Bros. não poupou esforços e chamou, inclusive, a diretora do primeiro “Crepúsculo” para comandar o longa, Catherine Hardwicke, fazendo questão de ressaltar tal fato em todas as peças publicitárias da produção.
A história se passa na idade média, em uma vila assombrada por um terrível lobo e é protagonizada pela bela Valerie (Ananda Seyfried). Apesar de apaixonada pelo impetuoso lenhador Peter (Shiloh Fernandez), ela fora prometida por sua família ao ferreiro Henry (Max Irons), que tem condições de lhe dar uma vida um pouco melhor. Quando o lobo quebra a frágil trégua que havia firmado com o povoado e mata a irmã de Valerie, o estanho Padre Solomon (Gary Oldman) surge para acabar com a fera, custe o que custar, estando convencido que ela se esconde dentre os habitantes do lugarejo.
Resumindo, temos uma garota, cujo pai é vivido por Billy Burke, envolvida em um triângulo amoroso com dois arquétipos de homens perfeitos em uma cidadezinha fria e remota e que tem problemas com licantropos. Parece familiar para vocês? E aqui, Catherine Hardwicke simplesmente joga a toalha, colocando em tela praticamente uma versão teen daqueles romances de banca, não só nos diálogos ridículos, mas nas situações postas.
Não sendo suficiente ter um lenhador e um ferreiro disputando o amor de uma donzela, o filme conta com reviravoltas românticas dignas de paródias de novelas mexicanas. É difícil segurar as risadas nas cenas onde descobrimos os segredos de certos personagens, nas quais só faltava o Ratinho com seus testes de DNA. Os roteiristas do longa devem achar que viradas forçadas na história são garantias de um bom roteiro.
Hardwicke, aparentemente, parece mais interessada em fazer travellings inúteis e inserir cenas de sonho absolutamente sem sentido do que em estabelecer um clima ou contar uma história. Aliás, existem exatamente duas cenas que remetem diretamente ao conto clássico da Chapeuzinho Vermelho, as duas no terço final da projeção, e fica complicado saber qual é a mais ridícula. E sim, uma delas é o lobo “disfarçado” de vovozinha.
Por falar nele, os ataques da criatura e até o monstro em si são bem feitos, ao contrário do último longa de Hardwicke, no qual as cenas de efeitos especiais eram simplesmente ridículas. No entanto, chega a ser engraçado uma produção contar com animais selvagens matando pessoas sem uma gota de sangue ser mostrada nos ferimentos de suas vítimas ou ao redor destas, sendo que elas são filmadas em close em dados momentos.
Os personagens são absolutamente nulos, se tornando difícil investir emocionalmente em qualquer um deles. Amanda Seyfried e Gary Oldman fazem o que podem, mas o roteiro não ajuda. Valerie não passa de uma menina perfeita que sempre depende dos homens de sua vida para se salvar das situações de perigo em que se encontra, sendo uma protagonista bastante passiva.
Seus interesses amorosos, por sua vez, podiam se chamar “Ousado” e “Sensível”, pois não passam de pedaços de carne apaixonados, saídos diretamente de folhetins de quinta. Shiloh Fernandez e Max Irons até combinaram com os papéis. A nulidade que os dois passam se adéqua muito bem com a criatividade de suas falas e ações.
E o que dizer de Gary Oldman, que interpreta um Van Helsing de segunda, completamente louco e com um sotaque atroz, que não faz muito sentido na narrativa. A insanidade do Padre Solomon é tão clara, que ele acha que obrigar uma menina a usar uma máscara de lobo seria uma boa ideia e que um elefante de metal dava uma prisão decente. O religioso parece-me tão razoável quanto os escritores do filme. Aliás, chamar um ator que viveu Drácula nos cinemas para caçar um lobisomem. Sutil, não?
Enfim, o paquiderme no quarto é o menor dos problemas da fita, que também desperdiça atrizes do calibre de Virginia Madsen e Julie Christie, esta última como a famigerada vovó, com as veteranas e talentosas intérpretes descobrindo o significado de “fundo do poço”.
Contando ao menos com uma ambientação decente e uma fotografia razoável, com exceção dos despropositados travellings, “A Garota da Capa Vermelha” fracassa em todos os sentidos, não sendo divertido, assustador, emocionante, romântico ou sensual. A não ser para quem curte bestialismo.
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Thiago Siqueira é advogado por profissão e cinéfilo por natureza. Formou-se em cursos de Crítica Cinematográfica e História e Estética do Cinema.


De Cinema com Rapadura

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