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terça-feira, 26 de abril de 2011

Hop – Rebelde Sem Páscoa: É as vezes engraçado, mas fica só nisso


É estranho falar de um filme sobre Coelho da Páscoa onde a coisa mais estranha que se vê na tela não é o próprio mamífero que gosta de ovos, mas a obsessão de um diretor por um símbolo kitsch dos anos 1980 e bizarras noções de xenofobia e misoginia que o próprio longa parece ter. Por mais que, no geral, este “Hop – Rebelde Sem Páscoa” pareça divertido e bem genérico, tem alguma coisa esquisita com esta fita.
Dirigido por Tim Hill e produzido pela Illumination Entertainment (responsável por “Meu Malvado Favorito”), o longa é uma mistura de live-action e animação, justificando a contratação de Hill para o trabalho, tendo em vista sua experiência com “Alvin e os Esquilos”.
Na trama, acompanhamos as trajetórias de Júnior e Fred. Enquanto Júnior é o próximo na linha de sucessão para assumir o cargo de Coelho da Páscoa, atualmente ocupado por seu pai, embora o seu sonho seja ser um baterista. Enquanto isso, em Hollywood, Fred Lebre (James Marsden) é expulso de casa por seus pais por, bem já ter passado dos 30 e não ter um rumo na vida. Os dois acabam trombando e se ajudando a alcançar suas metas. No entanto, Júnior está na ira do pinto Carlos, subalterno do Coelho da páscoa que deseja tomar o controle da produção de doces todo para ele.
James Marsden retrata bem a imaturidade de Fred, muito mais infantil que qualquer outro personagem em cena, e o ator tem uma química bacana com o coelho animado, se saindo melhor que Jason Lee e Zachary Levi nos filmes dos Esquilos, por exemplo. No entanto, reparem que, com exceção de Fred, a maioria dos adultos reage com uma naturalidade incrível ao ver Júnior pela primeira vez, tornando inúteis os (previsíveis) malabarismos que o rapaz faz para esconder seu amigo peludo.
Tendo em vista que se trata de um filme infantil com tons de fábula, os efeitos estão na medida, pois não precisam ser perfeitos visualmente para funcionarem, se encaixando bem com a proposta da película. As cenas mais movimentadas são ágeis e mantém os pequenos alertas.
A  história está longe de ser um primor de originalidade, com a audiência podendo adivinhar várias das gags antes de acontecerem, mas lembremos que a fita é para um público mais novo. E aí é que está o maior problema do filme. Por ser para a molecada, alguns detalhes acabam incomodando, como as piadas com coelhinhas da Playboy, o coelho da páscoa dizendo que ainda irá conquistar os chineses que tentaram matá-lo, o fato do vilão ser um pintinho latino chamado Carlos e… David Hasselhoff.
Uma coisa é ter um humor mais maduro, acenando para o público mais velho. Outra é colocar piadas que podem ser mal-compreendidas e com um cunho discriminatório. A questão das coelhas dá pra ser relevada, considerando que as Boinas Rosas chutam bundas (ao menos duas delas) e que a irmã de Fred, vivida por Kaley Cuoco, parece ser a única pessoa na família do rapaz que não é uma imbecil, sendo difícil qualificar o longa como sexista. Mas o Pinto mexicano, Carlos, denuncia algo seriamente perturbador.
Carlos se mostra um empregado leal competente que sonha em ser o símbolo da páscoa e não pode ser por conta de sua raça e, quando sugere isso ao Coelho, vira motivo de chacota. Por conta disso, acaba pirando e dando um golpe de estado. Em vários momentos do filme senti mais pena do personagem do que raiva. Mas o longa resolve mostrá-lo como um vilão estereotipado. Some isso com a piadinha da China e a situação fica desconfortável, pra dizer o mínimo.
Sobre David Hasselhoff… Tim Hill parece ter uma queda pelo velho Michael Knight, considerando que o colocou também em uma ponta no filme do Bob Esponja. Explicar pra garotada quem é Hasselhoff e porque ele tinha um carro falante vai dar trabalho para os pais. Pessoalmente, a gag funcionou pra mim, mas não vi a garotada esboçando um sorriso nessa hora. Ainda bem que “A Super Máquina” está passando na TV a cabo.
Enfim, “Hop – Rebelde Sem Páscoa” não é de todo ruim. É eventualmente engraçado, mas possui mensagens confusas e um final mais confuso ainda.
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Thiago Siqueira é advogado por profissão e cinéfilo por natureza. Formou-se em cursos de Crítica Cinematográfica e História e Estética do Cinema.


De Cinema com Rapadura

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