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segunda-feira, 4 de abril de 2011

Uma Manhã Gloriosa - Crítica (2)


O argumento para criar uma comédia não costuma ser tão complicado. O gênero bebe da mesma fonte há algum tempo, já tendo contado histórias de todos os tipos. A responsabilidade dos realizadores americanos agora é conseguir se diferenciar por meio de novas formas de contar a mesma bobagem e parecer atual. A pitada de romance sempre aparece, com algum obstáculo que o atrapalha até o terceiro ato, quando tudo é resolvido com sucesso. Em “Uma Manhã Gloriosa”, o produtor J.J. Abrams mete as caras em um longa que põe em questão a guerra dos sexos e o sucesso profissional como principais atrativos, ainda que pouco se destaque frente aos seus semelhantes.
Dirigida por Roger Michell, responsável pelo clássico da comédia romântica Um Lugar Chamado Notting Hil, a trama é focada em Becky Fuller (Rachel McAdams), uma esforçada produtora de televisão que é demitida e procura um novo desafio na vida. Quando ela consegue ser contratada para o programa matutino Daybreak, ela tenta tirar a atração do último lugar em audiência. Para isso, Becky terá que domar os âncoras Mike Pomeroy (Harrison Ford) e Colleen Peck (Diane Keaton) e uma equipe sem boas ideias. Nesse meio tempo, ela ainda terá uma aventura romântica com o produtor Adam Green (Patrick Wilson).
O roteiro de Aline Brosh McKenna, que levou O Diabo Veste Prada aos cinemas e outras comédias medianas como Leis da Atração Vestida Para Casar, não sai do lugar comum na apresentação de seus problemas. Becky é atrapalhada, como se nunca pudesse ter sucesso, apesar de sua determinação. Ela é engolida pelos seus superiores e sempre utiliza de sua sensibilidade para tentar mais uma vez dar certo. A comédia, que é apenas comédia e deixa o romance para segundo plano, não é daquelas de arrancar gargalhadas, tenho apenas como seu único objetivo divertir o público.
Os conflitos da protagonista estão em encontrar, na rixa entre jornalismo sério e o entretenimento vazio, a linha certa para o programa, de forma que consiga agradar a todos os envolvidos no projeto. Para isso, temos informações na medida certa dos personagens envolvidos no Daybreak. Mike é um renomado jornalista, mas hoje vive à meia boca da profissão, enquanto Colleen é determinada a não sair da televisão por simplesmente gostar de estar nela. Quando o conflito de egos surge, cabe a Becky resolver tudo.
O romance, como apontado, fica quase de lado. Becky e Adam se conhecem ao estilo de comédias de costume, quase se esbarrando dentro do elevador. O roteiro de McKenna acerta ao poupar os espectadores daquele sentimentalismo barato entre eles, atrapalhado pela indisponibilidade de Becky de se desligar da profissão. Chega até a ser estranho, em uma determinada cena, ver o casal conversando sobre um fato que aconteceu entre eles que o filme não mostrou. Mas logo o estranhamento passa, pois poupa o público do besteirol da conquista. O mesmo também pode ser observado entre Mike e Colleen, onde há clara tensão sexual quase nunca explorada e revelada em uma cena rápida no terceiro ato.
Por outro lado, o script de McKenna escorrega ao trazer poucas situações relevantes durante o processo de organização do programa televisivo, ficando sempre nos mais do mesmo. Além disso, a roteirista e o diretor  fazem de seus personagens seres unidimensionais, o que atrapalha o desfecho quando eles precisam transcender. Rachel McAdams, absurdamente competente em tudo que faz, se restringe aos tiques de uma adolescente. Harrison Ford está detestável como Mike, sem nunca transparecer vulnerabilidade, nem mesmo quando o roteiro proporciona isso. Diane Keaton é a mais a vontade em cena, ainda que siga estereótipos desagradáveis.
Com uma trilha sonora pop que valoriza a trama cosmopolita, incluindo canções das ótimas Joss Stone e Natasha Bedingfield, a guerra dos sexos e poder também é visível dentro do universo jornalístico, ainda que não se aprofunde tanto elaborando teorias sobre isso. Um outro acerto, pois poderia comprometer a única intenção de “Uma Manhã Gloriosa”, que é ser apenas um bom entretenimento. Neste sentido, o longa obtém sucesso e deve agradar ao público alvo.
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Diego Benevides é jornalista graduado pela Universidade de Fortaleza (Unifor), atualmente é pós-graduando em Assessoria de Comunicação e estudioso em Cinema e Audiovisual. Desde 2006 aprendeu a gostar de tudo um pouco. A desgostar também.

De Cinema com Rapadura

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