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segunda-feira, 4 de abril de 2011

As Mães de Chico Xavier - Crítica (2)


Chico Xavier, através de seu trabalho, conseguiu aliviar o sofrimento de muitas mães que perderam seus filhos. Quer acreditemos nos dons do médium ou não, isso é um fato. A simples chance de aqueles que partiram deixarem mensagens de amor e esperança para seus entes queridos já era o suficiente para apaziguar o sofrimento inimaginável pelo qual essas mulheres passavam. Esta é, sem dúvida, uma das facetas mais nobres e emocionantes de toda a carreira de Chico. E é uma pena que tenha resultado em um filme tão ruim.
Dirigido por Glauber Filho e Halder Gomes, “As Mães de Chico Xavier” conta a história de três mulheres que sofrem diferentes perdas em suas vidas e são ajudadas por Chico (Nelson Xavier) em dado momento, com as histórias delas se cruzando no decorrer da projeção. Elisa (Vanessa Gerbelli) é uma esposa relegada a último plano por seu marido (Joelson Medeiros), com o rebento do casal, o pequeno Theo (Gabriel Pontes) sendo a única fonte de alegria em sua vida.
Por sua vez, a jovem professora Lara (Tainá Müller) está lidando com uma gravidez indesejada. Já a artista plástica Ruth (Via Negromonte) encara a queda de seu filho, Raul (Daniel Dias), diante do pesadelo das drogas. O marido desta última, o executivo de televisão Mário (Herson Capri), recebe uma pauta sobre Chico Xavier, enviando o repórter Karl (Caio Blat) para realizar uma entrevista com o médium.
O problema mais aparente do filme é a sua montagem, que chega a ser quase criminosa. Não temos uma unidade dentro das quatro linhas narrativas apresentadas, com as transições entre as quatro histórias sendo uma bagunça. De quando em vez, vemos na tela uma tomada curta de uma das outras plots apenas como se tentassem dizer “olha, lembramos que temos outras tramas, viu? Daqui a pouco voltamos para elas“.
Mas esse não é o único aspecto técnico que atrapalha a experiência. A dupla de diretores resolve apelar para todo e qualquer recurso grosseiro para tentar causar emoções ao espectador, manipulando o público ao invés de fazer a conexão deste com a história. Sutileza é uma virtude inexistente aqui.
Reparem na sequência em que os personagens de Vanessa Gerbelli e Joelson Medeiros recebem uma terrível notícia. Ali, a câmera lenta é excessivamente usada, arrastando e prejudicando imensamente o que deveria ser um dos momentos mais chocantes da projeção. Outro momento prejudicado é a pesada cena entre Via Negromonte e Herson Capri, cuja preparação é mostrada em câmera lenta e o clímax simplesmente inexiste, parecendo até que esqueceram de filmar o final!
Convenhamos, o roteiro da produção também não ajuda. A estrutura é falha e ações são forçadas para que as tramas possam andar. O modo com que Elisa resolve procurar Chico Xavier é prova disso, já que acontece de forma nada natural, com a personagem simplesmente lembrando-se da doutrina espírita e de Chico, afirmando que o conhece e que segue o espiritismo, mas sem ter sido apresentado nada até aquele momento da projeção que corroborasse tal afirmação.
A mensagem contra o aborto também peca pelo exagero. Chega a ser patética de tão caricata a cena em que uma personagem passa pílulas abortivas para Lara. Filmes como “Juno” conseguiram passar o mesmo recado de um modo bem mais econômico, sério e efetivo, sem precisar que a fita venha nos créditos finais explicar qual é o objetivo da história daquela personagem, empobrecendo não só a mensagem, mas o próprio filme.
Interessante notar que os poucos momentos em que a produção realmente funciona são os de maior simplicidade, como quando vemos Elisa abraçada com uma roupa de seu filho. Terna e incrivelmente tocante, esta sequência não necessita de manipulação ou trilha exagerada para conseguir causar emoção junto a qualquer pessoa.
Por falar na trilha sonora, esta é uma das mais irritantes que já ouvi em um filme, possuindo um cantarolar incessante e ainda sendo tremendamente mal-inserida, ao tocar em um volume altíssimo e eclipsar até mesmo os diálogos da própria produção.
Apesar de todos os problemas, alguns atores do elenco trazem alguma luz à película. Caio Blat e Vanessa Gerbelli são bons exemplos. Blat consegue mostrar o esforço de Karl para conseguir a matéria e transmite bem a emoção de seu personagem ao entrevistar as mães (mesmo que a ideia de fazer tais entrevistas não tenha partido exatamente do jornalista, mas vá lá).
Enquanto isso, o drama passado pela personagem de Gerbelli é o único que não é (totalmente) prejudicado pela mão pesada dos diretores, com o pesadelo passado por Elisa sendo demonstrado de modo excepcional pela atriz, que consegue superar os problemas da produção e se conecta conosco. A bela Tainá Müller só está em cena como garota propaganda anti-aborto, enquanto os demais atores acabam se entregando ao exagero que marca o resto do filme.
Exceção, claro, fica por conta de Nelson Xavier. Este maravilhoso ator faz com que, apesar a prótese dentária tão deficiente quanto o roteiro e o tom da fita, consigamos admirar o trabalho de Chico Xavier mostrado ali. A atuação dele é o verdadeiro tributo que encerra as comemorações do centenário do médium, independente da obra onde está inserida.
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Thiago Siqueira é advogado por profissão e cinéfilo por natureza. Formou-se em cursos de Crítica Cinematográfica e História e Estética do Cinema.

De Cinema com Rapadura

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