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domingo, 4 de setembro de 2011

Todo Mundo Tem Problemas Sexuais: comédia é sabotada pela estrutura


Cinema e teatro são meios artísticos bem diferentes. As semelhanças, diferenças e interações entre essas duas mídias já geraram obras muito interessantes, tais como “Ricardo III – Um Ensaio”. No entanto, esse não é exatamente o caso deste “Todo Mundo Tem Problemas Sexuais”, cuja estrutura, aliás, bebe um pouco do supracitado longa de Al Pacino.
Dirigido e roteirizado por Domingos Oliveira, autor da peça homônima da qual se origina o filme, o longa não é exatamente uma adaptação para o cinema, tendo em vista que trechos inteiros da projeção são retirados de apresentações da própria peça. A trama consiste em cinco histórias curtas sobre o impacto do sexo nas relações humanas. No intervalo de cada história, elenco e diretor discutem um pouco sobre sexo e os personagens.
As tramas são bem diferentes entre si e possuem premissas bastante criativas. Temos uma mulher que se sente insultada por seu parceiro necessitar da ajuda do Viagra para suas performances, um casal conservador que descobre acidentalmente os prazeres do swing, dois solitários que se encontram pela internet e vivem uma sombria relação, o jogo de sedução entre dois balconistas de uma farmácia e o fim de um romance por conta de uma penetração inesperada.
Os textos são interpretados por uma afiada e eficiente trupe, liderada por Pedro Cardoso, que protagoniza a maioria das histórias e consegue dar um tom diferente aos seus personagens, mesmo que consigamos ver a personalidade do ator em cada um deles. Outro rosto conhecido é o de Cláudia Abreu, que surge linda como sempre, ganhando maior destaque na última história, na qual mostra quão ultrajada uma mulher pode ficar.
No entanto, o que derruba a produção é o fato de que Domingos Oliveira parece enamorado demais pela ideia de mixar as experiências do cinema e do teatro, ideia esta executada de modo forçado. As diversas quebras da quarta parede, os avisos no canto da tela sobre de qual apresentação aquele trecho específico fora tirado… tudo isso funciona como ruídos que tiram os espectadores de dentro do filme e os lembra que aquilo é uma farsa, algo que destrói o compromisso da plateia para com aquelas figuras pitorescas que está acompanhando.
Um exemplo disso é o trecho durante a história do casal que se apaixona no escuro, quando o cineasta decide mostrar o público acompanhando a peça na penumbra. Nesse ponto, perde-se a ilusão da intimidade dos personagens e a intensidade do drama, pois se torna impossível sustentar a importância daquela situação por ela se admitir de modo tão aberto como ficcional.
Com a própria mise-en-scène trabalhando contra a produção, seus defeitos ficam mais e mais evidentes, eclipsando um texto bem escrito e atuações competentes. O auge disto é o fato de que, no epílogo da fita, quando Pedro Cardoso, em um monólogo, tem de dividir a tela com os créditos da fita, que distraem o público da interpretação do ator. Se o filme fala de problemas sexuais, o que temos aqui é uma linda mulher que não sabe se f*** ou se sai de cima. Uma pena.
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Thiago Siqueira é advogado por profissão e cinéfilo por natureza. Formou-se em cursos de Crítica Cinematográfica e História e Estética do Cinema.


De Cinema com Rapadura

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