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domingo, 16 de outubro de 2011

O Zelador Animal: comédia infantil com Kevin James não diverte


Quando se fala na falta de ideias de Hollywood em criar novas histórias,  não é nunca uma reclamação banal. As tramas se atualizam, se reciclam e até os clichês às vezes encontram espaços apropriados nas atuais produções, quando os roteiros conseguem contornar suas prováveis falhas e fazem, pelo menos, um feel good movie. Essa observação serve principalmente para as comédias em geral, que atualmente nem mudam mais o seu elenco e enfiam goela abaixo do público as mesmas situações e piadas sem graça.
Não é diferente com “O Zelador Animal”. Estreando no Brasil na véspera do Dia das Crianças, como programação alternativa para os pais que querem se divertir com os filhos, o longa retoma o argumento batido de animais falantes. Não, o filme não é uma animação. Protagonizado por Kevin James, o roteiro é focado em Griffin, um homem apaixonado por seu trabalho em um zoológico, que descobre que os animais de lá podem se comunicar verbalmente. Quando Griffin vê a oportunidade de reconquistar sua ex namorada Stephanie (Leslie Bibb), os animais tentam ajudá-lo dando conselhos amorosos. Sem questionar o absurdo, o protagonista passa a ouvir os bichos e a agir como um deles, com direito a demarcação de território e tudo mais.
O grande problema do longa está em suas  piadas caricatas, exigindo de Kevin James um overactingdesagradável e fora dos padrões de filmes de caráter fantasioso. Tudo bem os animais falarem com humanos, mas quando todos os personagens vistos em cena se revelam completos babacas não há quem salve o público do constrangimento. E não é por ser um filme infantil que os realizadores têm o direito de fazer com que tais absurdos pareçam legais em cena.
A diversão, que deveria estar presente do começo ao fim, é inexistente, com pouquíssimos momentos em que o espectador consegue esboçar um sorriso (nunca uma gargalhada). Uma dessas sequências é quando Griffin se aventura com o gorila Bernie e eles cantam “Low”, do Flo Rida. A direção de Frank Coraci, responsável pelo razoável “Click”, também não dá ao longa uma identidade que o classifique nem mesmo como um bom filme infantil. Vale ressaltar também que a produção ficou a cargo de Adam Sandler, com quem Coraci trabalhou em “Afinado no Amor” e no próprio “Click”.
O roteiro escrito por sete pessoas (número incrível!) é cheio de falhas. Além de dar aos bichos falantes diálogos pouco inspirados, sempre com conselhos amorosos permeados de piadinhas do mundo animal que não funcionam, o script não favorece o seu elenco. Assim como James, Leslie Bibb também está acima do tom, e praticamente todo o elenco de “humanos”. A exceção é Rosario Dawson, sempre linda e talentosa, que poderia ter tirado essa produção de sua filmografia.
Os personagens animais sofrem com o uso exagerado da computação gráfica, e apenas o leão é extremamente natural. Os demais sofrem com a artificialidade, principalmente o gorila Bernie. Aliás, o roteiro é bastante incorreto com Bernie, que deveria ser maior motivo de apego do protagonista. O gorila, por exemplo, sabe tudo que acontece fora da jaula em que vive, mesmo sendo tomado como um animal solitário e triste, que não tem contato frequente com os outros habitantes do zoológico.
Incapaz de divertir o público infantil, “O Zelador Animal” aparece como uma das piores comédias do ano, mas um caça níquel em potencial para o mês de outubro no Brasil. As crianças formam uma parcela de público que definirá o gosto pelo cinema nos próximos anos e desde já elas também merecem respeito dos realizadores. Lições comuns de “seja você mesmo” não bastam mais. É preciso qualidade.
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Diego Benevides é jornalista graduado pela Universidade de Fortaleza (Unifor), atualmente é pós-graduando em Assessoria de Comunicação, pesquisador em Audiovisual e professor universitário na linha de Artes Visuais e Cinema. Desde 2006 aprendeu a gostar de tudo um pouco. A desgostar também.


De Cinema com Rapadura

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